pedidos de casamento

de súbito me pedes
para ser concreto
alicerces
paredes
e teto
portas invioláveis
janelas encerradas
mentiras irrefutáveis
fobias escancaradas
datas e ditos
gostos e gestos
odiosos de tão amáveis
lembranças
de esquecimento
mudanças de horário
festas de aniversário
pedidos de casamento
...
sinto muito
mas neste momento
prefiro ser o vento

fotografia indecifrável

arte ou coisa diferente
sob lentes quem explica?
tudo é nada coerente
que silentes amplifica
cores mudas quase ausentes
nada aqui se justifica
se poesia assim fabrica
quem sabe o que significa?

espíritos crípticos

encerrados no papel
meus escritos mais bonitos
em algum lugar ao léu

em tinta encarnada
coisa assim
esperado ser ressuscitada

é tanto tudo e quase nada

se for poesia
um dia vai ser lembrada

lírico líquido

vem o sol secar a chuva
e o vapor tem cheirinho de terra

o que me lembra alguma infância

num cantinho do quintal
ainda brinco de ser livre
feito espírito d'água
que se move como água
que precipita e evapora
em alegrias e mágoas

em razão do alvorecer

cadê a vírgula
que viria antes do dia?

amanheceu
assim de súbito
como se a manhã já fosse
ontem
e hoje fosse
mais um susto

sim
a noite teve fim

ao menos para mim
que vi no sol
um imenso ponto final

ecos do fim

vez por outra
se procura
quem te encontra
e o que te conta
então te diz
que não dá
pra ser feliz

vez em quando
te aninhas
noutras camas
mais sozinhas
não as minhas

hora ou outra
vem bater
à minha porta
me pedir
o que não tem
nem terá volta

camuflagem

o mal se esconde
nos olhos do querer
bem onde o bem
não pode ver

sentimento remetente

daqui te envio liras
ainda que sejam tuas
todas palavras minhas
daqui remeto linhas
ainda que se leiam teias
ainda que se leiam ruas
ainda que se leiam veias
que de sangue e vinho
é que fiz o meu caminho
distendido em fios de ouro
lembrando teus cabelos
ou teus tantos outros belos
que compõem meu tesouro

horizonte em chamas

fim de tarde magnífico
o horizonte arde
e o sol se apaga no pacífico

onde menos é mais

amar pode ser algema
chicote pode ser fetiche
escravos sempre somos
libertos não contentamos

rainha branca

lagarta de luz que te adentra
invento de venta te centra
um tiro de brilho no espírito
um flash no lábio dormente
um feixe de sol na narina
das folhas sagradas andinas
dos incas que sabia(mente)
dos índios que cantam bolívia
por chlile peru ou colômbia
são sempre muralhas da china

cine cinério

cenas no fim
da estrofe
penas
findadas em verso
poemas
guardados no cofre
no alvo
debaixo às costelas
no peito
daquele que sofre
demasiadas
mazelas

lobo em pele de lua

pastor de estrelas
nos campos da lira
o poeta se espanta
e se inspira

desgarradas cadentes
são sempre bem vindas
poemas são mesmo
estrelas caídas

cantando de galo

que pensa que letra
que leia que linha
que linha que veia
que sangue de vinha
palavra que lava
que lavra sozinha
pulsando na lira
que mira que tinha
que rima que canta
que tanta que minha
palavra que alvo
que salvo da rinha

lume na lâmina

rima por vez
vez por verso
pele por tez
e o corte se fez

teatro de letras
álgidas quis
flor por lótus
lótus por lis

palavra por arte
atroz por atriz
vez por outra
razão por raiz

contra por invés
trás por um tris
escrava palavra
por vez cicatriz

banquete de algas

ser
de areia
de sal
de mar
de peixe

feixe
de ex
camas
de lume
e limo

rimo +
é com
sereia
mas se
sabe

cabe
menos
nessa
ceia

blackout

feito fenda que se rasga
nos tecidos da tua fala
o que foi dito não escrito
no poema que se cala
feito vida que se apaga
feito luz de sol na sala
o que omito e acredito
já não vale nem a chaga

luneta

nalguma lua
a grav(idade)
se anula

despe
do corpo
imenso peso

mantém
o espírito aceso

desperta alma
leve nua

caso
o poeta a possua.

colméia

o lápis ferroa o papel
letras pousam como abelhas
e o poema tem gosto de mel.

jardim distante

acima da flor
a rima vera prima
era a cor e odor
do clima.

bala perdida

tiro certo no escuro

errado foi o muro
que adiou nosso futuro.

conto de fadas

mamãe não disse
que o príncipe só é príncipe
no principio.

ateu graças a deus

me causa riso
esse inferno e paraíso

desse deus eu não preciso

anatomia

giz riscando a lousa

sobre os seios da professora
meu olhar repousa.

porto príncipe

incrível essa foto:
um sorriso de criança
em meio ao terremoto.

percepção

vida que se vê
nos olhos desertos
da boneca
sempre abertos

é fácil perceber
a infância está por perto.

hipermetropia

eu te vi
e cego
já não sei
se te sigo
ou se te nego.

asa à cobra

guiso
fácil riso
amor assim
preciso

raso
fluido
sem sonhar ser paraíso

leve
assim mesmo
como se deve
amor de ave
e não de eva

amor de luz
amando a treva.

reflexos de ausência

essa procura
cansa
de tanto te encontrar perdido
iludido
e te ver assim
tão parecido comigo

o que carece
não se esquece de estar
e ser
tudo aquilo
que os olhos não podem ver.

certeza não cabe a ninguém

a natureza da dúvida e da fé
é o medo que a vida tem
que a morte acorde mais cedo
e seja eterna também.

ponte aérea

ela vai ao céu
quando ele
nu vem.

flor de neutrons

pariu
espinhos e sangue
sobre um chão de pétalas amarelas de ipê

num gerar de dor
de guerra

deixou que semeassem granadas
sob um céu de chumbo
onde a luz caia abatida
entre os cogumelos de nagasaki e hiroshima

derivadas almas

areias
que já foram conchas
que já foram pedras
que já foram ossos
destroços de naufrágios

talvez o sal
de mar e ar qualquer narina
nesta costa
nesta praia
brava mole ou joaquina
seja lágrima destes seres
já distantes
mas nunca ausentes.

ao vivo

consciência
do viver sentido
ao som de silêncios
na cor do vazio
no óbito obtido
nos olhos
do crânio seco
cego de ausência
produz a luz de um eco
repleto de existência.

a montanha vaia maomé

o que move
montanhas
que não vão
nem são
a fé de maomé
os pés
nos passos
a alma
na palma da mão
então fugindo
pelos poros
pelos fundos
escuros
desse vão.

poeta de gaveta

que seria de mim
se me dessem crédito?
escrito e não lido
permaneço inédito.

inércia

era esse o nome dela
deitada num canto
aqui dentro
onde eu não alcanço

inércia aqui no centro
como por encanto
versava silêncios
na cadeira de balaço
(estática)

inércia
era assim
quase simpática
sorria e me olhava
mas sem nunca dizer nada.

porcelana chinesa

penso
desequilibrado objeto
no micro instante
em que um dos lados cede
e se inicia num mergulho
ao piso opaco

cai
sem medo, sem orgulho
sem pensar nos próprios cacos

feito asteróide
que sangrasse o espaço
cai como se voasse
e beija o céu num estilhaço.

inconscientes peregrinos

quando distante aqui por perto
pés de anjo caminhando
quando quando (quase quando)
o destino certo reto e manso
algo novo aconteceu:

migrávamos nós
desatados deus e eu (quase sós)
os meus sentidos eram os seus
os meus não passavam
de uma corda (ora bamba ora forca)
os meus sentidos
não faziam reverência
nem batiam continência
ao general do céu supremo

algo veio como um corte
rente ao osso expondo a morte
sangravam os sagrados da história
salivando a memória pela boca
e a sua voz já quase rouca
disse três ou quatro palavras de glória
foi quando deus cerrou os lábios
e seu silêncio soou ainda mais sábio.

fé de mais não cheira bem

tô contigo
são tomé
sem pôr e nem tirar

que nesse mundo
é ser pra ter
e ver
pra duvidar

surfando

depois
de tanta chuva:
sacola plástica
pneu de carro
bicho morto
sobre a onda
turva triste
que quebra
e o tubo parece
de esgoto
um raio de sol
um lábio de sal
um dedo afinal
aponta em riste
nenhum cristo
quebra a crista
não há surfista
que se arrisque
e pelo visto
só o poeta
ainda insiste

i'm lesbian

amargor
se te sabe a língua
outro sabor
teu amor complexo
se te satisfaz
outro sexo
se te cabe menos
mais ou tanto faz
se faz sentido
ou direção
se é paixão
se é libido
ao menos traz a ilusão
que esse teu gosto
pré-suposto a ocluir
não é avesso
nem oposto
que se é carne
e não tem osso
é bem capaz de diferir
onde os iguais
se atraem mais
e não se quer admitir

beleza merecida

estava
com um ar de brisa
havia
nos seus lábios pálidos
um quase riso

fragrância de rosas
misturada ao odor de velas
se ouvia pranto
mas o silêncio
soava mais sentido

estava linda
os cabelos negros
em contraste à pele
e ao vestido branco pluma

a pouca luz
traduzia paz e sombras
por sobre os seios
os pés descalços entre flores
feito um anjo
que pisasse o paraíso

estava bela
como não pode ser na vida

vocação

tua língua suave
tocando a flauta
doce feito fosse o dia em noite alta
na puta pauta a nota clara se insinua
leve como se deve a tua clave de lua
e a minha música não te fizesse falta
mesmo quando um canto me salta
enquanto fere
e fende a fera
a vara explode
escorre e morre em tua cara
e há sorriso em teus lábios de santa
e paraíso na prece calada que canta
o que me tara
letra por letra
e me encanta:
a vocação de ser oral
esse meu gozo literal

letras celestiais

caído do céu poema azul
ácido pássaro
abatido de gozo e riso
banido do paraíso
ferido em tombo preciso
letra de fado
ritmo de samba
soar colorido
feito blues
de branco tingido
que deus me prove
vai que o céu é mais ao sul
e deus me love
e deus me livre
de ser eu
a besta do após calipso
vai que eu sei
que viro a mesa
luso-afro-brasileira
de madeira nobre
expondo os restos coloniais
desta nação de hipócritas
mostrando o rastros
desta história corrompida
vai que sei
não estou só
e não é só meu esse nó
e esse bom gosto
na língua

era uma casa muito engraçada

pinta tanta letra torta da janela até a porta
que a tinta só desbota
decerto são as sombras sobre as sobras
de concreto só é certo
o coração está em obras

humanice

eu sei
que você sabe que eu sei
que essa tal
insanidade
já é lei nessa cidade

afinal antes dos fins de semana
e feriados nacionais
o que emana
não irmana

eu sei
que você sabe que eu sei
que essa tal
insanidade
agora é lei necessidade

afinal antes dos fins de semana
e dos periódicos semanais
palavra é só
o que engana

eu sei
que você sabe que eu sei
que essa tal
insanidade
já é unanimidade

afinal antes do fins de semana
e das cinzas dos carnavais
é tudo carne
e grana

eu sei até de mais
que todos os anos
antes dos dias santos
somos menos humanos
que os animais

amor

é decoração
pra coração.

vendo o que se vende

profunda ferida, fenda
esgarçada entre as pernas
da porca e manca mesa de boate.
fissura, fístula num canto da boca
do Rio de fevereiro, que te abate
no que te rouba a vida, mas não te mata.
o que não mata, que se engorde na TV,
violando a inocente violência que se vê.
que se mate esta ciência, lentamente.
que se note esta nota de loucura
soando escura e muito, muito rente.

mudança

o guarda-roupas não passa na porta!
a casa é pequena pra tanta mobília!
e porque não deixa-lá assim vazia?
o eco faz as palavras mais bonitas.

cadarços

que se passa com o passo que adiante adias?
por que o primeiro passo é sempre em falso?
por que tropeças nos cadarços,
mesmo quando pisas com teus pés descalços?

desagosto

noutro dia um cão raivoso
espumando versos pela boca,
disse sol à nuvem louca
e o inverno inverso, rigoroso,
fez-se ainda mais intenso!
punhal de gelo na carne pouca,
que racha, sangra e estanca
entre a pele e a roupa.
mas, o andarilho lindo e asqueroso,
como brilho de amor, imenso,
ainda trilha as ruas sujas
nas cidades do que eu penso.

quase quasar

cravada de dia,
de luz que se irradia
tal qual e quanto antes,
a água clara e grata
cravada de diamantes.
diamantes solares,
serpentes de prata
sobre a face dos mares.
sementes de crepúsculo
enraizadas, contas, colares
no solo maiúsculo das ondas,
e nas tuas mãos em concha,
feito estranho molusco.
quase um quasar, caracol,
a guardar o som do mar
e as manhãs de sal e de sol.

cães dos dias

é mês de cachorro louco
me late no dia sete
te uiva no dia oito.
espuma
na boca do tempo,
resulta
da foda ou coito.
o tempo te passa o rodo
te puxa o tapete
e te canta rouco.
o tempo
reflete no espelho.
TODO tempo parece pouco.

cúmplice

serei teu cúmplice
neste crime,
não como bonny e clyde
no cinema,
mas como leminski e alice
num poema.
farei do teu crime,
o partilhar mais sublime
entre a delinquência
e a arte.

ecoAndo

sou o que soo
no que tino,
no que vibro,
estremeço
e equilibro,
no que teço
e que desfibro.

quando hai cai

o tecido cai feito pluma
num despir de qualquer coisa
ou parir de coisa alguma.

eternaMente

guarda
na poesia
um pouco mais
da luz do dia

guarda
tua inspiração
e emoção

guarda
na poesia
um pouco de tua
vida.

desafio

acordar pela manhã
e não ser.

estar? nem pensar.

atravessar
a porta de saída
e não haver
nem mais
entradas.

amorTecido

NU em pêlo visto,
quando não apenas despido,
mas, quase reparido,
viria ao mundo
e ao mundo veria noutro menino.
se eu te fosse íntimo como um vestido,
sobrepeles, um tecido de sentidos,
todo o ar tornaria-se gozo!
no sentido mais perigoso.

um setembro que me lembro

oba!mas
que se cuidem
atentem
ao destino dado às torres,
que o bin ainda "os ama"
e trama ainda seus terrores.




*o osama mandou avisar que o barrako do obama ainda pode cair.

incurável

boca tua,
seios meus.
anseios de torta loucura,
anseios meus.
te amar é câncer,
signo da tortura.
o amor sou eu
não tenho cura.

paraíso nos teus olhos

a caligrafia dos teus olhos
sob os meus,
me sinto homem
menino teu.
poeta às escusas,
sílabas ocultas...
me sinto deus.

mal dito

amor maldito
dói deste instante ao infinito.
é teu amor em silêncio que eu grito.

bloco de notas

traço teus gestos
num caderno aqui de dentro
e perco o centro
depois me perco.

teu gosto é gozo
que me lembro
quando me esqueço.

te kiss

te quis
não sei de onde
viajei
não sei que bonde

te quero e quis
como quem sonha
ser feliz

giras sol

circunstâncias
alheias ao meu coração
te fizeram girassol sob o concreto.

...nem os anjos
compreendem nosso dialeto.

verdadeiramente

.verdade
................IRA
.......................mente.

sacada que tive no latão

coletivo
de pobre
é ônibus.

(a)linha

na
linha
da
vida
((de
vida)
(dê
vida)
(di
vida)
(dí
vida)
(dú
vida))

uma
certa
(in
cer
te
za)
em
ser
tesa.

utopEU

se eu
fosse eu
seria outro

alguém
sem nome
nem pai
filho
espírito
ou amém

seria meu

seria
um deus
que
ninguém
concebeu.

à ARTur gomes.

let
's
go
mes
!

G(estações).

veras obras
de seja
lá o que flor

per(fume-se!)

quede-se mente

virão ver
e quando vir
verão

espinhos
não são dignos
de letras

pétala, raiz
lírio lótus
flacidez
ou tônus?

caule-se!

quede somente
folhas
folhas brancas

leia-se
saiba-se de cor

silêncio
ao ver-nos
nus

inverno supus.

tua casa (à marisa viera)

vi eira
e beira.
muros
au sentes
paredes
já nelas
e redes

paredes
sem
sem portas
sem pressa
sem pre
aber tas
casa nossa
coisa
de poeta

tua casa
com vista
proa mar

tua casa
agora
é minha
é poesia
e nela
mora
plena
toda
marisia.

desobediência

pedi a ela que pusesse “vou”
naquele verso de mudar o mundo,

mas ela
............POES IA.

sampa até a tampa

não sendo eu
nenhum caetano,
nada acontece
nas esquinas da canção.

não sei da garoa
em teus cabelos de sansão
que dali lá são paulos
todos santos!

não tenho a liberdade,
não acredito na república,

pouco sei da tua música

nem do fluxo complexo
das tuas vias concretas.

não sou tiete
de nenhum tietê.

marginais?
só mesmo os poetas
subversando as misérias
e todas as tuas paulicéias

amar é melhor que amor

amor é só,
amores são muitos.

entra ano
e sai insano
insiste
quando são
ou quando não.

amor reside dentro
mas resiste fora

amor não sabe a hora
parte
sem ir embora.

amor
se for
só se for agora.

cotovelos de aço

Não me levem a mal
mas,

quem canta seus males,
espanta!

eu quero cantar alegrias
versar palavras em alegorias

como se o amor
fosse para sempre carnaval.

comboio

peguei o trem
quando vinha de onde sempre

o largarei logo adiante
adiando outra vã guarda
que guardada ainda vem

mas o fato,
o absurdo absoluto,
é que embarquei e não havia barco
e o outono era a estação

vocês verão,
eu vou mais além!
no primeiro vagão
do último trem.

alcoolirísmo

triz tesa
à flor da pele
amarelecida...

ictéria pele
como página envelhecida
de tanto ostentar poesia

teu fígado já pediu a conta
não aguentou
tanta boemia

com cirrose
teu corpo se despede
como quem não quer ir embora

e implora ainda mais uma dose

não queres parar
não agora

ainda queres sair
para beber
e reescrever tuas linhas tortas

mas a esta hora
o último bar
já encerrou as tuas portas.

cadela que ladra ... rouba

morde
tudo quando pode
furta cores das abóbodas celestes,
celeumas dos que pescam estrelas
com seus anzóis minguantes
e suas almas crescentes
pelo céu, itinerantes.

abocanha um sol que arde
ainda que seja noite
que seja tarde
que a manhã te açoite

se esconde
atrás de tua concisa consciência
debaixo da tua aparente sonolência.

subtrai as rimas do teu destino
confunde teus passos, tuas letras
oculta teu nome
te aparta alma e corpo

dilacera tua carne feito fera
suga do teu sangue açúcar
da tua dor ela faz música
e dança em meio a teus restos
catando entre teus ossos
toda poesia possível
que a impossível
possivelmente
irá te extrair mais adiante.

que se for dá

vida
se for mar
ser um porto

ser partida, chegada
mais vida, menos nada

apenas enquanto eu for.

por enquanto
me transpor,

me esvair e inundar
de tanto ter teu ir e vir
de tanto te amar

vida
se for mar
ser um barco à vela

e quando eu me for
navegar por ela

como ela sempre quis.

ser feliz?
apenas
quando eu for mar
e ela me navegar

quando
a vida
se formar

e ela se transformar.

pouco me lixando

meu verso é lixo
e recolho pelo chão da sala
pelo piso da cozinha, atrás dos móveis
por debaixo dos tapetes
em meio a restos de tão pouco
montanhas e mais montanhas de ainda menos

nas prateleiras não há nada, leve o quanto quiser.

minha rua é um deserto
a vizinhança é o meu peito aberto
cravado de balas e migalhas de biscoito

estou sempre convidado a beber meu chá das oito
que às cinco é outra droga, algum esterco tipo oriental
e das seis às sete pratico yôga e me perco no quintal.

eu sou meu próprio eco, meu reflexo no espelho
é quando a deus mais me assemelho

eu sou meu lar
doce e amargo endereço, qualquer lugar
sou eu mesmo a qualquer preço
respiro meu próprio ar

eu sou meus versos, sou todos os meus lados
meus passados passos reciclados

prazer, me chamam rodrigo!

eu sou tudo que trago comigo
e não descarto por puro romantismo.

sou isso mesmo
sou meu mais nobre e repugnante monte de lixo.

piano solo

alguém
sabe exatamente
o que se sente
quando o partir
tem amplo sentido?

(ou quando o par tido
se for
e ainda for coração?)

que canção
toca
quando a porta bate?

alguém sai
alguém entra
alguém vai
e fica só o ausente

como as cordas
de um piano

((( v i b r a n d o )))

dentro da gente.

só vendo a vista II

verde vista
que me veste e venta
que me investe e inventa
no que
invariavelmente
a mente
atenta.

só vendo a vista

vista
que os olhos
vista

paisagem verde
que é dever de ver
dever de ser

ser verde de verdade

não de esperança

que esperança
geralmente é saudade.

ego

adília dorme.
sonha comigo?

ou será um sonho enorme
bem maior
que o meu umbigo?

amizade colorida

amigo não é coisa,
pra se guardar

no lado esquerdo, direito
ou qualquer outro lado do peito.

Amizade se objeto fosse,
que fosse como roupa que se veste
que a alma te aquece
e te mantem a carne nua.

amizade
não fica em casa
a amizade se leva para a rua

a amizade quanto mais se usa
mais colorida
fica a blusa.

o passado é uma criança

agora tua cara vela
um porto futuro,
que de velho já é morto
e portanto
seguro.

aula de natAção

poesia,
você não entende,
nada.

mas nadar se aprende sozinho
e sozinhos somos todos amplo mar.

Vê se aprende a nadar!

Você não entende a poesia
mas a poesia te compreende
completaMente.

(escrito em Roraima pouco antes de minha ubá voltar a ser canoa)

lento
o ar à minha volta

um lamento à solta
um barco parado

sigo atento
à qualquer momento

esse ar vira vento.

anatomia atômica

bilíngue
bilábio
escusas e eclusas
sílabas
por um gozar
mais sábio.

à saudade que eu sinto de mim

amanheceu
é mais um hoje
que vai longe.

não sei se chove...

se for segunda,
vou chegar às nove
e esquecer as chaves.

...me vejo
num estilhaço de espelho.
é como se eu estivesse
em pedaços.
me vejo
e de fato estou um caco.

visto as roupas
calço os sapatos
e não esqueço
meu nariz de palhaço.

saio a rua
e tudo cheira a alegria,
a morte nua
passa por mim
como se fosse alegoria,
vestida de ouro
a vizinhança
me convida ao bacanal...

há um anjo sujo
contando dinheiro.

não sinto dor.
algo vai mal.

amanheceu,
é fevereiro,é carnaval.

há (manhã)

ontem
não houve nada
e ninguém ouve

é madrugada
e enquanto tens companhia
para ficar a sós

enquanto há lua
por todos os lados

enquanto deus
te dá ouvidos estrelados

viva hoje esta manhã
é indispensável
que viva hoje

enquanto ainda é madrugada

viva hoje esta manhã
que amanhã não há nada.

à bela mais bela

She's é ela
is a beauty
is a bela

água que passarinho não bebe

se beber
não me dirija a palavra

que palavras não sabem ler

ignoram as placas de pare
e começam logo a querer

tens que saber

tem muita água
para passar sob a ponte
tem muita pedra
para chutar no caminho

mas é preciso
beber dessa fonte

antes
que algum passarinho te apronte
e resolva beber.

anfíbio

eu ando poetando
mais a torto
que a direito

tanto quanto posso
tanto quanto penso
que mereço
ando largo
à passo estreito

mas eu não busco nenhum centro

uma palavra salta o poço
outra se joga pra dentro.

psicoliterografia

é quando a gente
passa por pessoa,

assassina o presidente
e o vice versa,

assina um poema indiferente
cujo o tema
é a alma pequena e boa.

é quando pessoa
passa pela gente

e de repente
voa.

livre-nos livros

me destes
um livro
que li de leste à oeste.

e por mais que lide
para que nada mude,

ainda que gostes
ou que detestes,

o que li fere!

o que li difere do que lestes.

e este
já não é o mesmo livro
que me destes.

livrerdade

livre-nos livros
no que somam tantos
no que tanto somos
livres nos livros

que nascemos mesmo para isso

então
livres de nós mesmos
alcemos vôo ao paraíso.

este livro

nebulosas páginas
onde as frases
assumem curvas perigosas.

como cascavéis
roçando os túmulos
de um antigo cemitério,
inquietando os ossos imortais
de algum poeta.

que alquimista ousaria
fazer ouro destes ossos?

eu posso ver
por entre os versos deste livro.

eu posso ver
através da neblina
como se expusesse
a verdade mais oculta
na mais oculta das ciências.

e eu vejo rosas.

estranhas rosas
onde as pétalas são letras
e os espinhos reticências...

esse amor não vai à missa

esse amor é casca grossa
é vaso ruim
que até quebra mas não lasca
é bem me quer
querendo em mim

esse amor
que ninguém tasca
é esse amor tupiniquim

esse amor renova a bossa
engrossa o caldo com farinha
e desafina o bandolim

esse amor
não tem, nem tinha
que ser tanto amor assim

esse amor me atravessa o samba
me empata a foda
é esse amor de corda bamba
é esse amor que tá na moda

esse amor enlouquecido
não carece de querubim
não precisa de cupido
não tá a fim de serafim

esse amor não vai à missa
com esse amor
não há quem possa

que os deuses nus livrem
nus livrem
de um amor assim.

riso/gozo

o corpo todo
lábios se rindo

corpo indo
e (bem) vindo

sentidossentindo

todo corpo riso

todo corpo é para isso

todo gozo
é paraíso.

passado a limpo

cada
passo
cala um instante
cada vez mais
distante.

cada
esboço
fala
mais que a obra
definida.

cada salto
abolindo o poço.
cada sonho
re(escrevendo)
a vida.

nu ânsia

nu
também sob a pele.
que algo mais
se revele.

in(ex)piração

avanço.
........alcanço
um ponto além da meta.

Eis a ausência
..........que me completa.

esqueço a idéia inicial,
a ânsia
..que motivara o poema.

Eis o problema
....que soluciona o tema.

Então arrisco.
...................atiro pedras
ao invés de letras.

E fica o visto
.............pelo não quisto.

miro em judas
..............e acerto cristo.

um tanto feita,
um tando dita,
ainda ela.

depois de muita lida,
transformar emoção
em palavra escrita.

misturada ao asfalto
e à fumaça das usinas,
ainda ela.

na graça desgraçada
das esquinas:
a puta virgem,
a santa violentada.

ainda ela,
caravela rumo às índias
sempre nuas.

minhas palavras são
vontades suas.

que seja como se fosse

sou criança
e moro aqui
o tempo que se mude!

quis ser tudo
mas, somente o nada pôde
e tudo que eu pude
foi ser.

parLamento

uma mão lavra outra
palavra nunca é vão
uma mão livra outra
palavra luva e mão
uma mão leva a outra
palavra nunca é não
uma mão louva outra
palavra lava então.

Rodrigo Mebs & Cláudia Gonçalves

amor como poder

como pode
o amor saber?

quem alma
quem carne

a quem cabe saber?

quem ama
quem fode

como pode
o amor poder?

biblioteca pública

livres larvas
traças nos livros
traçando palavras

palavras feito confetes

louco
avariado das letras
lá vai o poeta

camiseta regata
sandália de couro
maleta de prata
palavras de ouro

lá vai o poeta
desastrado, tropeça
espalha seus versos
pela praça

e faz da tarde sem graça
uma esplendorosa festa.

sob a blusa

lisa, macia
a pele da musa
que me sacia

um raro lugar comum

embora leve
se torna grave
todo amor que se deve

mas nada sobra
de um amor
que se cobra

o amor
não se estuda
o amor tudo muda

o amor
não se entende
o amor se sente
pura
e simplesmente.

o vão das coisas

como vão
as coisas?
as coisas
vão apenas

sempre vão
voam em asas
à duras penas

vão em vão
por alguma razão

explícita língua

mantenha a sua boca
o mais distante
impossível
da minha

quero escrever
na tua língua
te traduzir para a minha

vem amor...
deixe eu ser teu particípio
descobrir
teu ponto G
de gerúndio

então amado
estarei te amando
em todo o meu ser e estar

e no futuro do pretérito
nós estaríamos conjugando

dois verbos
amar & gozar.

MSN

por VC
meu PC
desvaria
and low QC
e te copia
Crtl +C
Crtr +V
poesia

I feel God!

que belo dia
de música!
manhã
de sol
lá si dó...

eu maRIO, tu MARias

mar
ávido

haver navios

rio
lívido
aliviado

à ver
nos arcos
nosso mar

mais
mar
e ado

que mariou
que mar
maria

haver
em ti
alguma ilha

à ver
amar
avilha.

( à mocidade iNdependende de padre olívacio II )

nosso amor
é carnal
nosso carma
é carnaval

nossa quarta-feira
é de brasas

nossa intenção
é sempre a fogueira

porto partido

se já é
alegre
teu porto

quem sabe
parto
um dia

em duas
partes
de alegria

e seja farta
a que
te cabe

seja poesia.

(para Cláudia Gonçalves)

ostra-cismo

cismo
neste ostracismo
pela beleza imposta
à raridade da pérola
banida da ostra.

acrEditar

não acre
dito!

seivas
de seringais
que fito,
floresta...

nada mais
resta
daquele Chico
além
do grito?

Poema Anti-Apático

anti-apático
de humor ártico
articularei meus versos

enquanto houver doses
de poemas homeopáticos
e músicos azuis

enquanto houver roses
violets, rock-reds & blues.

o que se lê

está
aqui nem sei
bem onde

por que se esconde?

só sei que está
costuma Star
como sempre esteve

e não se vê
no que se escreve
mas no que lia

o que se lê
não silencia
o que se lê, cia!

lowCura

poesia...
ainda encontro a cura
encontro-a crua
por certo, ainda encontro!
ainda perto
no centro ou dentro
de algum inverso...

amoRoma

a palavra
que a vida lança

trança o vazio,
invade o mistério

então se cansa
alcança
um muro, um lado escuro

o flerte se inverte
e vira império

um estado de coma

é quando amor
se torna roma.

penados

estes anjos são demônios alados
que o bom deus cobriu de penas
pra disfarçar seus próprios pecados.

flecha

tua flecha
me lambe a face
me fere no poema
que sangro em letras
e doces lágrimas

tua flecha
num arco-íris
além dos olhos
buscando um alvo
e um róseo em minha pele

passeia meu corpo
transpassa minha carne
tua flecha envenenada
acerta meus ossos
e este músculo pulsante

tua flecha
me entrega belo à morte
e a toda sorte de ressurgir
em outros poemas
em outras palavras
após um ponto final.

pé de laranja-rima

quero me transpor
trancar as portas
do que me foge

me quero longe
de tudo mais
que me reprima

quero ser prima
de toda obra
que me rima

num pé de vento
num pé de lima
num pé de invento
montanha acima

de amor tamanho
florir-me em fera
num pé de sonho

quero ser clima
uma prima-vera
uma obra prima.

rodrigo mebs & cláudia gonçálves

licor de cacau

bebo os licores de tuas letras
embriagado, corro nu nesta paragem
mastigo tuas flores e cuspo borboletas
asas leves ao meu eterno de passagem
pelos teus pampas, pelo vôo dos poetas
pelo amor de um poema à paisagem.

lágrimas amigas!

são estas gotas de sonhos,
tais que te lambem a face
diante de um fim concreto
ou algo enfim concretizado.
são estas, gotas tristes ou felizes
capazes de apagar um olhar em chamas.
são estas gotas de uma chuva de verão
ou densa temporada em tempestade.
são estas tais que brotam sozinhas,
como cristalinas gotas de orvalho
num cantinho de uma folha chamada olhar.

bife sujo & champignon

ofereço um brinde
à my new bebitude!
sucesso e saúde!!!!
wisky on the rock
head is on the sky
wisky zito para zito
em meu sempre paranito
buracocrático polaco
coca calo cola caco
pinheirinho opaco
de um poty lazarento
num azulejo lazarotto
olhe o mate! óleo mate!
mate sim mate não
mate e beba meu poema
no bico da gralha capanema
petisque um espetinho de leão
fume a erva do chimarrão
cheire o pó do catatau
e chupe meu limão
mate a ética e a temática
matemática:
+ um wisky + uma dose
de cirrose hepática
peça mais um wisky
- garçom! ei! psiu! garçom!
1 bife sujo com champignon
e + 1 garrafa de leminski.

vago lume

vago lume às estrelas
e bem por elas,

pintei as telas
de plasma
e liguei
o liquidificador.

depois da dor
já liquefeita,
como água de lavanda,

fiz a cama
no perfume
de quem ama

e amei o lume
aquele à porta
aberto à varanda.

guaraná com isso aí

anote book
onde diz livro
e vá pra New York

se enforque
nos braços da liberdade
que se auto proclama
way of life

mas in your life
há sempre uma knife
de dois gumes

ah, que bacana!
ali na quinta avenida
há tanta vida americana
for sale pra teu deleite

aproveite
e troque sua havaiana
por um nike

de um rolê
no central park
e esqueça o ibirapuera

pela quimera
tua afro-tupy brasilidade
que vire cherocke num big mac
and chery-coke à vontade

e aos domigos
lembre os sambas mais antigos
e escute apenas o som dos gringos

again to play in your head
vê se aprende assim a língua
enquanto a tua seca e míngua

sem saliva ou seiva
sem verdade

e aí my brother
da tua língua mother
só te restará a palavra saudade.

pingo de pinga

ora veja,
se pinga no boteco
goteja na cerveja.

bonança

ontem choveu o dia todo.
mas à noite fez sol.

inverno inverso

estava tão frio, mas tão frio
que eu pensei que nem fosse o inverno.
era um frio de congelar as orelhas do caderno.

um quê para as lágrimas

gotas de sonhos?
que sejam.
gotejam meus olhos
teus olhos me beijam.

asas e pétalas

as borboletas
são o meio que as flores
encontraram pra voar.

tempo sentido I

todo tempo
faz sentido
há tanto tempo
há tanto sentido

tempo sentido II

tempo...
ser por nós é ser por quanto?
é ser eterno? não, nem tanto!

disco rígido

esquecer não me cabe
quem não lembra
nada sabe

pelo telefone

aquele amor muito lhe tocou
ela disse adeus ao telefone
eu pensei: pobre telefone!

a rosa da libido

tua pele
de fina seda
cobre os meus sentidos

abre em flor
nossa libido

desfia o tecido
expõe teu nu mais róseo

liberta teus perfumes
mais íntimos

como num bem me quer

pétala
por
pétala

em cada desejo
mais amor

e de beijo em beijo
minha língua
veste teu sabor

várzea das letras

asas incrédulas
pela várzea das letras
assombrosas libélulas
e foscas borboletas

sob o lodo
a decomposição de palavras
como em um caldo de todo
poema de antigas lavras

asas
em torno às taboas
e acima das casas
e como fantasmas
em torno às lagoas

entre montes e versos
todo o vale resiste intacto
feito de sonhos dispersos
num limbo como num pacto

no lusco fusco
eterno e tempo à parte
inexiste algum risco
de sonho ser arte

a girar pelos ares
sobre as asas concretas
inexistem aos milhares
inexistem os poetas.


"ler não passa de uma lenda... p.leminski"

SambA

samba
de braseiro
e brasileiro

pelo contorno
do rio
de janeiro
à janeiro

quando em torno
se avista
um país inteiro
que paulista
quase samba

RumbA

rumba
de fidelidade
ao castro casto

não fosse quase
talvez em tese
fosse a ilha
maravilha

senão americano
então cubano
quase rumba

RocK

rock n’ rolo
yank de domingo
fosse rumba
fosse samba
som de gringo
talvez fizesse
então sentido
ou não fizesse
apenas fosse
en verdad
cuba libre
cachaça
com gengibre
toda graça
à cuba e brasil
e bush fosse
marca de bombril

gozo cometa

meia noite
absurda e muda

meia a meia
minha e tua

cósmica
orgásmica
muy rica

expunha a pica
e punha à boca
junto à estrelas

noite louca
e nua
de língua
na teta
minha e tua

me gozo cometa
te gira
o planeta

em torno da lua.

ontem apocalipse

e se fosse
ontem
apocalipse?

leminski, 1.12 - 6

“o fim rimará
com início,
e do pó
por amor
e por vício
a vida recomeçará”

-stop, play life
in reverse order

essof missa es

!méma

quem manda?

rola no berço
em choro estridente
reivindica o seu leite

tão pequena
mas manda até no poema
que interrompi
ao ouví-la chorando

e lá vai adília botando
os peitos pra fora
ta na hora

isabelinha não se esquece

manda quem pode
quem tem juízo obedece

víCio

larga da teta
e pede a chupeta
a vida é um vício
desde o início

guerra

ao amor
armas eu trago

pedras, poemas, afago

no lago
as pedras eu lanço,
os poemas viram música
e eu danço,

o afago é fogo e não apago

avanço
aceso e desarmado
e na guerra que eu não venço,
também não saio derrotado.

bebo o baco

venho vinho

e trinco a taça

brindo sozinho

à boca bebaça

tanto o tinto

quanto o branco

quando muito

tonto e franco

ébrio e fraco

bebo o beco

o grito e o eco

o próprio boteco

bebo tanto

bebo o baco

e cuspo um santo

parLamento

uma mão lavra outra
palavra nunca é vão
uma mão livra outra
palavra luva e mão
uma mão leva a outra
palavra nunca é não
uma mão louva outra
palavra lava então.

Rodrigo Mebs & Cláudia Gonçalves

fruta farta

néctar de um pomar , amor de amora,
frutos das árvores genealógicas
gerando flores e mulheres, pela aurora
e pela flora no rumo dos ramos. como
na ruma das rimas, das obras primas
e tias e sobrinhas, impressas nos genes,
expressas nos gênesis destas tantas
frutas santas, destas glórias e cecílias
e alices e clarices tão suaves e míticas
e mitológicas ou muito lógicas e líricas.
singelas rosas, nocivas cobras e harpias
estrelas brilhantes anteriores ao haja luz
de venenos de língua através das raízes
e antídotos de vozes por outras ruizes.
eu te digo ame a todas, coma a carne
lambuzando os lábios. apalpe o poema
sugue o sumo pelo prumo, dilacere a polpa
mas poupe a fruta, a fruta farta, a poesia!